segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Segurança é apontada como preocupação por quase 40% dos brasileiros

Para especialistas, solução virá com novos modelos de combate ao crime


Renata Mariz - Correio Braziliense
Publicação: 11/09/2010 08:42 Atualização: 11/09/2010 08:58

O sentimento de insegurança é companheiro constante de Elias do Nascimento Amorim. Nos três anos como funcionário de um posto de gasolina em Taguatinga, no Distrito Federal, o rapaz já passou por quatro assaltos. Teve arma apontada para a cabeça e prejuízo repartido entre os colegas. "A situação aqui é muito complicada, a gente nunca sabe o que pode acontecer”, lamenta o rapaz. A preocupação dele se repete entre 39% dos brasileiros, que enumeraram a violência como a área prioritária de atuação do próximo presidente da República, de acordo com pesquisa recente do Ibope Inteligência.

Do medo de sair às ruas às condições do sistema penitenciário nacional, não faltam problemas para quem ocupar o Palácio do Planalto a partir do ano que vem. Vera Malaguti, secretária-geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), acredita que o principal desafio do próximo presidente será produzir uma resposta ao crime sem passar pela via penal ou policial. Ela defende, ainda, um debate sério sobre a política criminal de drogas no país e estratégias de esvaziamento das cadeias. “O paradigma da militarização e da cultura bélica, inspirado sobretudo no modelo norte-americano, já se mostrou um fracasso. Precisamos de soluções criativas, que pensem a segurança de forma mais ampla e complexa”, destaca a especialista.

Ignacio Cano, membro do Laboratório de Violência e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), aponta a criação do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), em 2007, com investimentos federais no setor, como o início de um movimento que não pode ser paralisado na próxima gestão presidencial. Maior modernização e padronização dos órgãos de segurança estaduais também são outros desafios a serem superados, segundo ele. Na avaliação de Vera, entretanto, o Pronasci foi “bem intencionado” na gestação, mas ainda carrega o “paradigma de militarização”. “Temos que aguardar os resultados práticos dessa política”, ressalta Vera, que é socióloga.

Nem as famosas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), implantadas em favelas do Rio de Janeiro, escapam da avaliação crítica de Vera Malaguti. Para a especialista, a estratégia de ocupação e permanência nas áreas cariocas de conflito “não passam de peça publicitária”. “Ocupação policial militar não é política sustentada de segurança. Enquanto não houver um conjunto de políticas públicas, não teremos segurança”, afirma. Vera aponta a necessidade de o Brasil modificar sua política sobre drogas, inclusive na questão da descriminalização. “Não há fórmula mágica, mas até países como Argentina, Portugal e Espanha tiveram coragem de levantar o debate. Precisamos fazer o mesmo.”

Laptop

A última pesquisa sobre o número de homicídios no Brasil mostrou que os dados pouco mudaram em 10 anos. Em 1997, a taxa de assassinatos foi de 25,4 por 100 mil habitantes, passando para 25,2 em 2007. As informações são do mais recente Mapa da Violência, elaborado pelo Instituto Sangari com base em dados oficiais. O estudo apontou ainda que enquanto nas regiões metropolitanas e nas capitais o índice de homicídios caiu até doze pontos percentuais, no interior a violência aumentou — de 13,5 mortes por 100 mil habitantes, em 1997, para 18,5, em 2007.

O medo de morrer atormenta Elias durante o tempo em que está no posto de gasolina onde trabalha. As grades na loja de conveniência tiveram de ser colocadas este ano depois que as portas de vidro foram arrancadas por bandidos. “Eu e mais quatro fomos rendidos, enquanto eles levavam o dinheiro e algumas mercadorias”, conta Elias. No último assalto sofrido, há uma semana, o alvo foi um cliente que usava seu laptop. “Um casal bem vestido chegou e levou o computador do rapaz.”

Levantamento

Realizada a pedido do Movimento Todos Pela Educação e da Fundação SM, a pesquisa constatou as áreas que merecem a atenção do próximo presidente, com base em 2.002 entrevistas. A primeira foi saúde, apontada por 63% dos entrevistados. Segurança ficou em segundo, com 39%. Nas eleições de 2006, o mesmo levantamento identificou 31% de brasileiros preocupados com o tema.


Fonte: Correio Braziliense

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